Thursday, April 23, 2015

giocavamo a cadere uno nelle braccia dell'altro/brincávamos a cair nos braços um do outro

Giocavamo a cadere
uno tra le braccia dell'altra, come facevano
le attrici nei film con marlon
brando, e dopo sospiravamo e ridevamo
senza sapere che abituavamo il cuore al
dolore. volevamo l'amore uno per l'altro
senza esitazioni, come se la calamità
ci servisse e, nel vedere i film, sentivamo che 
il petto era tutto in movimento e non
sapevamo che la vita sarebbe potuta fermarsi 
un giorno. ed io ti ho anche detto che mi facevano male le
braccia e che, anche se ero il ragazzo, la 
stanchezza arrivava e si installava nel mio 
pozzo di paure. tu ridevi e cadevi una ed un'altra
volta nell'intento di credere solo a ciò che 
fosse più immediato, quando i film finivano,
quando capivamo che il mondo era
fatto di distanza e di tanto tempo vuoto, tu
restavi femminile e abbandonata e io
soffrivo ancor di più per questo. eri cosi
distante da me come se fossi  già
partita e io fossi appena un luogo dimenticato
senza significato alcuno nel tuo cammino. tu
dicevi che se fossimo morti insieme
saremmo stati insieme in paradiso e mi
rimproveravi se io ero triste in altro modo,
un modo più perenne, lento, codardo. Io
ti amavo e pensavo che amare fosse 
far affezionare il corpo al pericolo, cadevo io
nelle tue braccia e tu ti facevi
dei baffi sul viso come se fossi 
marlon brando ed io che ti scoprivo come si scoprono 
le fantasie nell'inferno, non
volevo essere baciato da marlon, e 
entravo in una combustione modesta che,
al battere del mio cuore, illuminava il mio 
viso come una lampada rotta

mia madre diceva, valter fai attenzione, non
giocare così ti romperai una gamba, ti 
romperai la testa, ti romperai il 
cuore. ed aveva ragione, è stato tutto vero.
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brincávamos a cair nos 
braços um do outro, como faziam 
as actrizes nos filmes com o marlon 
brando, e depois suspirávamos e ríamos 
sem saber que habituávamos o coração à 
dor. queríamos o amor um pelo outro 
sem hesitações, como se a desgraça nos 
servisse bem e, a ver filmes, achávamos que 
o peito era todo em movimento e não 
sabíamos que a vida podia parar um 
dia. eu ainda te disse que me doíam os 
braços e que, mesmo sendo o rapaz, o 
cansaço chegava e instalava-se no meu 
poço de medo. tu rias e caías uma e outra 
vez à espera de acreditares apenas no que 
fosse mais imediato, quando os filmes acabavam, 
quando percebíamos que o mundo era 
feito de distância e tanto tempo vazio, tu 
ficavas muito feminina e abandonada e eu 
sofria mais ainda com isso. estavas tão 
diferente de mim como se já tivesses 
partido e eu fosse apenas um local esquecido 
sem significado maior no teu caminho. tu 
dizias que se morrêssemos juntos 
entraríamos juntos no paraíso e querias 
culpar-me por ser triste de outro modo, um 
modo mais perene, lento, covarde. Eu 
amava-te e julgava bem que amar era 
afeiçoar o corpo ao perigo. caía eu 
nos teus braços, fazias um 
bigode no teu rosto como se fosses o 
marlon brando. eu, que te descobria como se 
descobrem fantasias no inferno, não 
queria ser beijado pelo marlon brando e 
entrava numa combustão modesta que, às 
batidas do meu coração, iluminava o meu 
rosto como lâmpada falhando 

a minha mãe dizia-me, valter tem cuidado, não 
brinques assim, vais partir uma perna, vais 
partir a cabeça, vais partir o 
coração. e estava certa, foi tudo verdade 

valter hugo mãe